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A Madeira Circular
Algumas das peças de Daniel Oliveira, que conheço, têm o seu quê de nome próprio. Do apelido do próprio escultor. Pensamos que, não raras vezes, como que a genealogia e a etimologia se apresentam como duas faces de uma mesma moeda, ou, como preferem os escultores, da mesma medalha.
A sua linguagem abstracta e geométrica contém múltiplas referências a objectos primordiais do nosso imaginário, a determinadas formas e fórmulas puras que concebemos e que muito raramente encontramos. Uma espécie de orgânico quase impossível, mas que é esculturalmente realizável.
Os trabalhos que ora se apresentam, formalmente, remetem-nos para a pura forma circular. Para o círculo solar e lunar. A forma perfeita para o Homem do Renascimento. A própria Forma... As esculturas evocam pois a pureza formal e também o material da mesma - a madeira. Este material, antiquíssimo, é por si só escultoricamente puro. Pena que muitos hoje já não o entendam assim. A etimologia da palavra madeira vem do latim materia - matéria, princípio das coisas, matéria de que uma coisa é feita, materiais para um trabalho. Os sentidos figurados da palavra são igualmente estimulantes: matérias, assunto, tema, alimento, ocasião, pretexto; fontes, recursos do espírito; assunto tratado, questão, exposição.
A escultura sempre se fez em madeira. Em Portugal, sobretudo, de madeira e de barro, duas matérias primordiais e puras. O barro com que Deus fez o Homem e a matéria onde Cristo morreu, o lenho da cruz. A escultura em talha dourada é talvez antropologicamente a nossa verdadeira escultura.
Mas a madeira constitui ainda, na tradição ariana e indiana, a substância primordial que dá forma a todas as coisas - Brama; é ela própria a matéria-prima dos gregos (hylé). É um material protector, o lugar dos cultos benéficos das árvores e em última instância a matéria da Árvore da Vida, uma das metáfora recorrentes da Criação (como o Sol e a Lua).
Sol, Lua e Alquimia estão presentes no trabalho do escultor. Vejo igualmente nele troncos, árvores, bosques, florestas. Formas com vida (a madeira, ao contrário do barro e da pedra, tem circulação, seiva, vida) que esculpem a própria Luz. Essa deve ser a palavra chave de toda a exposição em vez dos sempre aborrecidos e estéreis "ismos", que muitos gostam de utilizar e de permanentemente tentar...
Um açoreano com nome de árvore abençoada, árvore de paz, de vitória, de alegria, de abundância, de pureza, de imortalidade, de virgindade, evoca nos seus objectos terrenos o que está no céu, provavelmente sobre os bosques verdes, como as suas Ilhas, numa metáfora e num discurso quase celta...
A sua linguagem abstracta e geométrica contém múltiplas referências a objectos primordiais do nosso imaginário, a determinadas formas e fórmulas puras que concebemos e que muito raramente encontramos. Uma espécie de orgânico quase impossível, mas que é esculturalmente realizável.
Os trabalhos que ora se apresentam, formalmente, remetem-nos para a pura forma circular. Para o círculo solar e lunar. A forma perfeita para o Homem do Renascimento. A própria Forma... As esculturas evocam pois a pureza formal e também o material da mesma - a madeira. Este material, antiquíssimo, é por si só escultoricamente puro. Pena que muitos hoje já não o entendam assim. A etimologia da palavra madeira vem do latim materia - matéria, princípio das coisas, matéria de que uma coisa é feita, materiais para um trabalho. Os sentidos figurados da palavra são igualmente estimulantes: matérias, assunto, tema, alimento, ocasião, pretexto; fontes, recursos do espírito; assunto tratado, questão, exposição.
A escultura sempre se fez em madeira. Em Portugal, sobretudo, de madeira e de barro, duas matérias primordiais e puras. O barro com que Deus fez o Homem e a matéria onde Cristo morreu, o lenho da cruz. A escultura em talha dourada é talvez antropologicamente a nossa verdadeira escultura.
Mas a madeira constitui ainda, na tradição ariana e indiana, a substância primordial que dá forma a todas as coisas - Brama; é ela própria a matéria-prima dos gregos (hylé). É um material protector, o lugar dos cultos benéficos das árvores e em última instância a matéria da Árvore da Vida, uma das metáfora recorrentes da Criação (como o Sol e a Lua).
Sol, Lua e Alquimia estão presentes no trabalho do escultor. Vejo igualmente nele troncos, árvores, bosques, florestas. Formas com vida (a madeira, ao contrário do barro e da pedra, tem circulação, seiva, vida) que esculpem a própria Luz. Essa deve ser a palavra chave de toda a exposição em vez dos sempre aborrecidos e estéreis "ismos", que muitos gostam de utilizar e de permanentemente tentar...
Um açoreano com nome de árvore abençoada, árvore de paz, de vitória, de alegria, de abundância, de pureza, de imortalidade, de virgindade, evoca nos seus objectos terrenos o que está no céu, provavelmente sobre os bosques verdes, como as suas Ilhas, numa metáfora e num discurso quase celta...
Eduardo Duarte
Prof. Fac. Belas Artes de Lisboa, 2002
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